Negão - um grande amigo e um mestre Zen de nosso tempo

Conheci o Negão em 25-9-15, a caminho de uma banca na Umesp, quando Roberto Castro e eu paramos para um café no Posto Ipiranga da rua Descampado (na entrada da Anchieta). O café é na área aberta do Posto e logo se aproximou de nossa mesa um vira lata negro - sem pedir nada - apenas para um contato amigável.






Roberto
 



Padaria e lanchonete 24 h: café, capucino, broinhas de milho, donuts etc.

Percebemos imediatamente, pelas reações dos frentistas, que era um "personagem" do posto: sem hierarquia definida, pois todos podem mandar nele ("Não é pra ficar aí, Negão!"), mas ao mesmo tempo de uma nobreza pessoal e doçura, que a todos cativa. Não, ele não é inferior e ele sabe disso; todos sabem disso. A sua superioridade pessoal decorre de uma absoluta aceitação da realidade, tal como ela é. Negão nunca reclama, nunca pede nada e, precisamente por isso, todos se ocupam de atendê-lo e de mimá-lo. Se o menor funcionariozinho lhe dirige uma ordem ou repreensão, ele não se preocupa em se afirmar ou redarguir (tipo: "Quem você pensa que é?"). Não: o Negão não precisa disso e - sabedor de seu próprio valor - permite que o funcionário (talvez humilhado e ressentido em sua vida pessoal ou profissional ) tenha seu momento de autoestima e autoafirmação em cima dele...



Fernando (em visita ao Negão, 14-10-15)  (J. Sérgio - sombra)

O Negão apareceu do nada no Posto em março ou abril de 2015 e o gerente decidiu acolhê-lo por alguns dias até que aparecesse o dono. O dono nunca veio, mas como todos já se haviam afeiçoado a ele, Negão, hoje perto de completar um ano de vida (estimativa de sua veterinária), foi adotado pelo posto (que nunca fecha) e passou a morar lá. Exerce a função de supervisor geral de serviços e também de segurança (tem até um uniforme próprio), além da de xodó de muitos vizinhos e clientes que vão lá para revê-lo e cuidar dele (foi uma grande "jogada de marketing", diz o gerente com ar maroto).
Além dos funcionários do posto, destacam-se entre os cuidadores do Negão, o seu João, que - todos os dias - divide sua marmita com ele; e a Dona Dulce, que, com suas filhas, cuida zelosamente do mobiliário (por exemplo, quando viu que Negão estava usando um colchonete cor de rosa, indignou-se e imediamente providenciou um azul - cf. foto abaixo).




D. Dulce e filhas; seu João; Jean  (17-10-15)



Negão em uniforme; Chie

Na visita ao Negão no sábado 17-10 ocorreu algo profundamente desagradável e intrigante. Enquanto todo mundo paparicava o Negão (que agradece, mas não se derrete com as badalações), duas cachorras acompanhavam o casal de donos na área externa (fumódromo) da lanchonete. Uma delas (uma cachorra com lacinho na cabeça...), após observar de longe o festival de agrados de todo mundo para o Negão; de modo covarde e traiçoeiro, aproximou-se e subitamente investiu ferozmente contra o Negão. Senti naquele momento a força do mal (ou do "Mau"...): o ódio destruidor (diabólico?) da inveja. Enquanto todos estavam ainda paralisados pelo inesperado ataque, Negão defendeu-se bravamente até que os separassem. Imediatamente após o incidente, voltou à tranquilidade Zen, como se nada tivesse acontecido... Pudemos entender o cargo de segurança que ele exerce: ele é da paz, mas sabe muito bem se defender contra o agressor injusto!




Casinha e colchonete; a cadela agressora (branca); Negão logo após o incidente