Projeto da USP incentiva iniciação científica no ensino médio

Revistas reúnem ensaios de especialistas, textos clássicos e artigos de alunos de colégios de São Paulo

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Os dois primeiros volumes da nova série de revistas e títulos de alguns dos artigos publicados – Foto: Reprodução/Revista Convenit Internacional

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“O mais novo software que vem trazendo várias discussões sobre sua capacidade trata-se de uma máquina capaz de agir e pensar por si só, que, após inventada, não necessita de instruções de um ser humano. Enquanto filósofos debatem conceitualmente sobre sua capacidade e criticam diversos fatores a seu respeito, cientistas e engenheiros da computação aperfeiçoam e desenvolvem algoritmos (como de fala, visão e reconhecimento, entre outros) que se assemelham aos comportamentos humanos, e seu desenvolvimento se faz em questão de segundos, ao contrário da humanidade, que leva milhões de anos.” Este é um trecho do artigo “Inteligência Artificial”, escrito pelo aluno do terceiro ano do ensino médio do Colégio Luterano São Paulo, Gianluca Striatto Andrade Silva, sob a orientação do professor de Informática Douglas Alberto Barbero.

O artigo está publicado na revista eletrônica Convenit Internacional – Coepta 1, publicada pelo Centro de Estudos Medievais Oriente & Ocidente (Cemoroc) do Departamento de Filosofia e Ciências da Educação da Faculdade de Educação da USP. É uma série recente da tradicional revista científica Convenit Internacional, em sua versão Coepta (palavra que vem do latim e que significa início, não só no sentido de começo, mas também de iniciativa, iniciação, empreendimento). Ela reúne ensaios de renomados pesquisadores brasileiros e estrangeiros, traduções de textos clássicos e artigos de estudantes do ensino médio do Colégio Luterano São Paulo (cofundador da série), da Escola Bilíngue Pueri Domus, do Colégio Ítaca – os três em São Paulo – e do Centro de Estudos Júlio Verne, em Diadema (SP). O texto de Gianluca Striatto Silva e os de seus colegas, por exemplo, estão publicados na mesma revista em que se encontram artigos de pensadores medievais como Tomás de Aquino (1225-1274) e Petrus Alphonsus (1062-1140) e dos filósofos contemporâneos Julián Marías (1914-2005) e Josef Pieper (1994-1997).

Os dois primeiros volumes da série, Convenit Internacional – Coepta 1 Convenit Internacional – Coepta 2, serão lançados no dia 26 de novembro, segunda-feira, às 19h30, no Colégio Luterano São Paulo, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. As duas edições já estão disponíveis no site da Editora Mandruvá, ligada ao Cemoroc. As revistas são publicadas graças a uma parceria entre o Cemoroc e o Instituto Jurídico Internacional (IJI) da Universidade do Porto, em Portugal.

A série Coepta tem como editores os professores da Faculdade de Educação da USP Jean Lauand e Silvia Gasparian Colello. A ideia surgiu há alguns anos, mas foi concretizada só agora, depois da realização de vários seminários dedicados à criação dessa nova versão da revista. “Dos Encontros Cemoroc Educação nasceu a convicção não só pela relevância de incentivar a pesquisa entre os jovens, mas também pela necessidade de uma revista de alto nível acadêmico para acolher esses trabalhos feitos sob criteriosa orientação, por vezes em coautoria com os próprios orientadores”, escrevem os editores na apresentação do primeiro número da série.

Segundo o diretor do Colégio Luterano São Paulo, professor Enio Starosky, “essa parceria entre um colégio de ensino médio, de educação básica, com um centro de estudos da USP, especialmente um centro de estudos medievais da Faculdade de Educação da USP, é um projeto inovador e inédito na cidade de São Paulo e, talvez, no Brasil”. Ele acrescenta que “essa parceria vem desde 2013, com a realização de seminários anuais voltados à educação e à formação docente e, mais recentemente, também dirigidos a pais e alunos do ensino médio”.

 

Capas das duas primeiras edições da série de revistas Convenit Internacional – Coepta, com ensaios de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, traduções de textos clássicos e artigos de alunos do ensino médio – Foto: Reprodução

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Incentivando a prática científica

Segundo a professora Sílvia Gasparian Colello, muitos alunos que ingressam na faculdade têm poucas competências como pesquisadores e produtores de conhecimento, e isso não é “culpa” da escola, mas da prática existente de ensino apostilado. “O aluno está acostumado a receber aquele conhecimento pronto e empacotado”, analisa. “Em face disso, percebemos o quanto a escola é carente na formação de pesquisadores, desde a educação básica aos cursos de graduação e até de pós-graduação. Buscamos então uma forma de valorizar escolas que já fazem esse trabalho”, conta, informando ainda que essa iniciação científica é incentivada nessas escolas “em diferentes modalidades, como um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) ou sob a forma de seminário ou pesquisa que integra várias matérias.”

A professora Silvia Colello, da Faculdade de Educação da USP – Foto: Divulgação/FEUSP

O Colégio Luterano, por exemplo, possui há 11 anos essa prática de TCC, como afirma o diretor Enio Starosky. “São trabalhos relacionados, preferencialmente, à carreira que os alunos pensam em estudar no ensino superior. Além disso, seguem as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e são apresentados a uma banca, formada pela direção do colégio, professor orientador, professor geral do projeto e coordenação pedagógica”, informa. “O TCC é um enriquecimento intelectual, uma conquista de novos campos de conhecimento, um espaço de novas descobertas e, mais ainda, um aprendizado para o formato de pesquisa exigido no ensino superior”, diz. “O Coepta, projeto de publicação de trabalhos de iniciação científica, foi muito bem acolhido pelos estudantes do Luterano.” Dos 64 formandos, dez foram selecionados para integrar a publicação.

“No início, ficamos muito temerosos, porque não sabíamos quantos artigos receberíamos nem o que receberíamos, mas fomos surpreendidos, porque apareceram textos muito bons e os mais diversificados possíveis”, relata a professora Silvia, citando, entre os artigos publicados, textos sobre violência contra a mulher, a distopia vista pela ótica da psicanálise, o Rio Pirajussara e a sustentabilidade do cimento. “São trabalhos realizados por alunos de 14 anos, sob a orientação de professores, que chegam ao formato de artigo científico, respeitando as regras da ABNT”, ressalta. “Estamos valorizando não só a prática de fazer a pesquisa, mas também a prática de apresentá-la. É claro que há mediações e foram necessários alguns acertos.” De acordo com a professora, os trabalhos passam por uma avaliação criteriosa tanto na escola quanto na revista, através de uma comissão científica.

O professor Enio Starosky, diretor do Colégio Luterano São Paulo – Foto: Vitor Chaves de Souza/Cemoroc-FE-USP

Os dois primeiros números da série não trazem exclusivamente textos produzidos pelos jovens estudantes porque, segundo a professora Silvia, os artigos de pesquisadores e traduções de textos clássicos é que dão sustentabilidade à publicação. “É uma revista científica que conta com a colaboração desses alunos do ensino médio”, define. No próximo ano, já estão programados novos números da série. “Queremos incentivar desde o início do ano esse trabalho de pesquisa e produção científica, tanto em escolas públicas quanto particulares, porque entendemos que essa é uma formação importante para todos”, afirma. “Os estudantes se mostraram muito interessados e envolvidos com o projeto. É interessante perceber como as famílias apreciam essa iniciativa, e como isso motiva os alunos”, diz a professora, acrescentando que essa “é uma iniciativa para valorizar a produção de conhecimento na escola”.

Para Gianluca Striatto Silva – o aluno que assina o artigo citado no início desta matéria -, a série Coepta é uma excelente iniciativa. “Eu abri meus olhos para uma nova forma de pesquisa e realização de trabalho e tenho o privilégio de ver o meu artigo publicado ao lado de artigos de grandes pesquisadores.” Ele ressalta que tal iniciativa gerou uma nova e grande responsabilidade a todos que realizaram os trabalhos. Segundo ele, é um aprendizado que leva para toda a sua vida acadêmica e para a carreira que deseja seguir, na área de engenharia da computação.

O lançamento das revistas Convenit Internacional – Coepta 1 Convenit Internacional – Coepta 2 será realizado no dia 26 de novembro de 2018, segunda-feira, às 19h30, no Colégio Luterano São Paulo (Rua Professor Vilalva Júnior, 73, bairro do Ipiranga, em São Paulo, telefone 11 2915-7966). As revistas estão disponíveis no site da Editora Mandruvá, ligada ao Centro de Estudos Medievais Oriente & Ocidente (Cemoroc) da Faculdade de Educação da USP. 

 

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