Voltar à página do Prof. Jean Lauand

Professor António Nóvoa (Sampaio da Nóvoa), gratidão e ideias de um artigo de JL (23-11-15)
Em 2014, foi publicada uma entrevista sobre alguns plágios de artigos meus, tendo como entrevistadores Chie Hirose e Elie Chadarevian, que haviam feito um levantamento de casos de menções a trabalhos de minha autoria, com ou sem citação. Delicadamente demos à entrevista o título: "Divulgação de pesquisas na Internet - alguns casos".
Recentemente fui indagado por alguns leitores sobre coincidências que acharam entre um trabalho meu e uma fala do Prof. António Nóvoa  (já repetida por ele e por terceiros, que mencionam, repetindo, o renomado ex-reitor da Universidade de Lisboa e atual candidato à presidência de Portugal), sobre os três níveis de gratidão segundo S. Tomás de Aquino e a forma de gratidão em português, "Obrigado" (nível mais profundo).
Curiosamente, essa fala do Prof. Nóvoa repete integralmente a inspiração em Tomás de Aquino, a estrutura, argumentos compondo o modo de dizer "obrigado" em diferentes línguas, e mesmo trechos de um antigo artigo meu dos anos 1980 (que escrevi, na época, estimulado pela colega Profa. Roseli Fischmann). Publicado em versão ampla e definitiva em 1998 no No. 1 da revista Notandum, foi, desde então, re-publicado muitas vezes e em diversas línguas: francês (ainda hoje ocupa o 2o. lugar nos Top Ten de artigos sobre Saint Thomas d'Aquin no ranking do Open Directory Project), espanhol, italiano (em 2000 foi o primeiro artigo de autor brasileiro a figurar no site da Biblioteca-Filosofia do Vaticano), alemão e inglês.
Alertado assim por leitores, foi com surpresa que reencontrei ideias desse artigo meu (amostras à direita, de uma outra versão minha, mais popular, "A gratidão inscrita na língua", publicada na revista Língua Portuguesa - São Paulo: ed. Segmento, No.2, 2005)  nas recentes falas do educador português:

António Nóvoa - 2014 (veja o vídeo: gratidão - muito obrigado, em conferência realizada no III Encontro do PIBID UNESPAR em Matinhos e Paranaguá - PR, 26-11-14. Recolho da citação completa e literal em discurso de Christiane Malard, defensora pública geral do estado de Minas Gerais)



“Se me derem mais dois minutos, explico-vos o que eu quero dizer com a palavra agradeço. Há uns meses atrás estava eu em Brasília a preparar a aula magna da Universidade de Brasília e vinha-me à cabeça que queria agradecer aos colegas brasileiros tudo o que me têm dado, e tem sido muito.

E vinha-me à cabeça o Tratado sobre Gratidão de São Tomás de Aquino. Todos aqui saberão que o Tratado da Gratidão de São Tomás de Aquino tem três níveis de gratidão: um nível superficial, um nível intermédio e um nível mais profundo.

[Na verdade, o usual é referir-se à questão sobre a gratidão da Suma Teológica; eu - como se vê ao lado, tomei a liberdade de chamá-la de Tratado].


O nível superficial é o nível do reconhecimento, do reconhecimento intelectual, do nível cerebral, do nível cognitivo do reconhecimento.


O segundo nível é o nível do agradecimento, do dar graças a alguém por aquilo que esse alguém fez por nós.


E o terceiro nível mais profundo do agradecimento é o nível do vínculo, é o nível do sentirmos vinculados e comprometidos com essas pessoas.


E de repente descobri uma coisa na qual eu nunca tinha pensado, que em inglês ou em alemão se agradece no nível mais superficial da gratidão. Quando se diz “thank you” ou quando se diz “zu danken” estamos a agradecer no plano intelectual.
[faltou explicar o porquê: a relação entre thank e think]
.


Que na maior parte das outras línguas europeias, quando se agradece, agradece-se no nível intermediário da gratidão.


Quando se diz “merci” em francês, quer dizer dar uma mercê, dar uma graça. Eu dou-lhe uma mercê, estou-lhe grato, dou-lhe uma mercê por aquilo que me trouxe, por aquilo que me deu.

Ou “gracias” em espanhol, ou “grazie” em italiano. Dou-lhe uma graça por aquilo que me deu e é nesse sentido que eu lhe agradeço, é nesse sentido que eu lhe estou grato.

E que só em português, que eu conheço, que eu saiba, é que se agradece com o terceiro nível, o terceiro nível, o nível mais profundo do tratado da gratidão. Nós dizemos “obrigado”.

E obrigado quer dizer isso mesmo. Fico-vos obrigado. Fico obrigado perante vós.

Fico vinculado perante vós. Fico-vos comprometido a um diálogo, agradecendo-vos o vosso convite, agradecendo-vos a vossa atenção.

Fico obrigado, vinculado, a continuar este diálogo e a poder contribuir, na medida das minhas possibilidades, para os vossos projetos, para os vossos trabalhos, para as vossas reflexões, para o vosso diálogo.É esse diálogo que quero e é nesse preciso sentido que eu vos digo: muito obrigado”.


Jean Lauand -  2005




(...)

(etc.)

             Observação: grifos de JL